sexta-feira, março 29, 2024

Dia do Meio Ambiente: delivery cresce e aumenta a preocupação com as embalagens plásticas

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(Foto: Getty Images)

Colaborou: Daniela Caravaggi

Em março de 2020, o mundo foi obrigado a parar. Portas se fecharam por muitos meses, entre elas as dos comércios, e a recomendação era a de não sair de casa. Com isso, muitos hábitos tiveram de mudar; outros foram reforçados. No âmbito da gastronomia, um deles foi o pedido de refeições por delivery. Quem não usou e abusou dessa plataforma nos últimos meses? Esse também foi o principal recurso que muitos restaurantes encontraram para conseguirem uma sobrevida diante de tantos prejuízos e faltas.

Uma pesquisa feita pela Mobills, startup de gestão de finanças pessoais, apontou que entre janeiro e dezembro de 2020 houve um aumento de 149% nos gastos em aplicativos de entrega de comida, tais como iFood, Rappi e Uber Eats.

A grande facilidade de receber em casa o tão aguardado almoço, jantar ou até um lanche da tarde reforçou, por outro lado, uma pauta importantíssima: o aumento da produção e utilização de embalagens plásticas. Esse pico não é de hoje e acompanha a crescente dos aplicativos nos últimos anos.

De acordo com dados divulgados pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), em 2019, o Brasil foi o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. Apenas 1,2% é reciclado. Em média, segundo o estudo, o país produz mais de 11,3 milhões de toneladas de lixo plástico por ano e cada brasileiro é responsável por 1 kg de lixo plástico por semana.

E está enganado quem pensa que o consumidor final não liga para essa questão. Cada vez mais o público está se conscientizando sobre os impactos desse tipo de material que causa tantos danos para o meio ambiente por diversos motivos.

Neste 5 de junho, Dia do Meio Ambiente, conheça as principais preocupações e soluções que permeiam este assunto.

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Os consumidores

O Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) apontou em uma pesquisa que 72% dos consumidores de aplicativos de entrega querem receber seus pedidos com embalagens biodegradáveis. Dos que participaram da pesquisa, 15% ressaltaram que já deixaram de solicitar o serviço pelo incômodo com a quantidade de plásticos usadas pelos estabelecimentos.

A pesquisa foi encomendada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela ONG Oceana, que juntos lideram a campanha #DeLivreDePlástico, lançada em dezembro de 2020.
Na pesquisa, 30% afirmaram que aplicativos como o iFood ou o Uber Eats têm papel fundamental em uma mudança de hábito por parte dos restaurantes na redução do uso de plástico.

“As empresas entendem que economia circular não é um conceito para o futuro, mas uma necessidade presente. A gestão de resíduos, como embalagens, precisa ser cada vez mais discutida. O Pacto Global da ONU, por exemplo, lançou neste ano o Blue Keepers, um projeto que visa combater que toneladas de plásticos terminem nos oceanos e rios. Pretendemos diagnosticar o problema e agir de forma localizada antes que ele aconteça. Para gerar mudanças significativas, precisamos das grandes empresas, mas também dos pequenos restaurantes, mercados… todos os membros dessa cadeia fazem parte da mudança e estão entendendo a sua necessidade. Todos precisam fazer a sua parte para mitigar os impactos do descarte indiscriminado de resíduos no planeta, e a união é algo muito positivo”, afirmou Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU.

Uma dessas pessoas é a representante comercial da indústria farmacêutica Roberta Coleto Pagliuca, que enxerga nos restaurantes e nas formas de entrega uma responsabilidade social e ambiental imensa. Ela, que costuma levar suas próprias embalagens em locais que ainda não mudaram esses costumes, explica como isso causa impacto nas suas escolhas:

“Eu me preocupo e sofro com isso. Quando vejo que tem muita embalagem plástica já não olho com os mesmos olhos. Do contrário é o mesmo: quando vejo que há um pensamento responsável passo a querer pedir ainda mais deste lugar. Tenho cada vez mais levado minhas próprias embalagens, em restaurantes e padarias. até para a hora de colocarem os frios, por exemplo. Muita gente não entende, mas cada vez mais precisamos ter essa consciência e fazer a nossa parte”, ressalta.

Já por parte dos aplicativos, há uma movimentação. O iFood lançou em março um plano de impacto ambiental com a proposta de reduzir o uso de plástico nas operações e se tornar neutro na emissão de carbono até 2025. O nome do projeto é “Ifood Regenera” e a ideia é investir em veículos elétricos, no desenvolvimento de embalagens sustentáveis e na parceria com cooperativas de reciclagem.

Os restaurantes

A conscientização da população e comércio é um processo, mas já há o que comemorar. Em São Paulo, por exemplo, uma lei que proíbe plástico em restaurantes de SP e estabelecimentos comerciais, entrou em vigor dia 1 de janeiro de 2021.

A lei 17.261/2020 bane o fornecimento de utensílios plásticos descartáveis em bares, restaurantes, padarias e outros estabelecimentos do gênero, inclusive no delivery.

Estas medidas foram sancionadas ano passado, no dia 13/01/2020, pelo então prefeito da cidade de São Paulo, Bruno Covas e entraram em 1o. de janeiro de 2021. A lei prevê multa que varia entre mil a 8 mil reais. Em caso de reincidência o local pode ser fechado.

Luiz Silveira, CEO da Scuadra,  primeira indústria de embalagens sustentáveis especializada para delivery de comida no Brasil

“O que parece inaceitável para determinados nichos é recebido com alegria e esperança de inovação em um setor que gera tanto descarte de plástico. As novas normas alinham-se à tendência global contra a degradação do meio ambiente”, ressalta Luiz Silveira, CEO da Scuadra,  primeira indústria de embalagens sustentáveis especializada para delivery de comida no Brasil.

Luizinho, como é conhecido, tem uma história de longa data com reciclagem – e o que a falta dela pode causar de impacto a curto e longo prazo. Trabalhou há muitos anos, junto com seu pai, em um dos maiores lixões que São Paulo já teve, como conta:

“Quando era criança, meu pai ia trabalhar e nunca soube qual era esse trabalho. Sempre tive curiosidade, até que um dia ele teve de me levar. Foi o maior choque da minha vida. Milhares de pessoas viviam naquele lixão, com aquele cheiro absurdo, cheio de urubu, naquela quantidade de lixo que as indústrias ali descartavam. Depois, ele abriu um ferro velho pequeno e trabalhei por quatro anos separando o lixo: papel, plástico e ferro. Foi ali que tive minha primeira experiência com reciclagem. Conheci algumas indústrias de papel e entendi como aquela matéria velha poderia virar nova. Nunca imaginei na vida que lá na frente iria trabalhar neste nicho”, ressalta.

Hoje, sua empresa fornece embalagens cartonadas (de papel) recicláveis para os mais renomados restaurantes de São Paulo, como Fasano, Rubayat, Pobre Juan, Mocotó, Z Deli, Eataly, Forneria San Paolo, entre outros. São mais de mil clientes espalhados pelo Brasil. A operação da empresa, que produzia 750 mil embalagens antes da pandemia, dobrou e hoje chega a mais de 1,5M.

Ristorantino é um dos clientes que aderiram à embalagem da Scuadra (Foto: divulgação)

Esses restaurantes de médio e alto padrão, que antes não estavam nestes aplicativos de entrega – muitas vezes por medo do seu produto não chegar de forma adequada – viram no trabalho da Scuadra a possibilidade de entrar para o nicho, além de seguirem todas a responsabilidade social e ambiental que o momento pede.

“Resolvi fundar a Scuadra depois de uma péssima experiência como cliente. Pedi uma comida que veio toda vazada, fria e ainda em uma embalagem plástica. Fui prontamente ao Google e vi que as demandas das empresas de embalagens não eram sustentáveis. Eram todas de plástico, isopor, marmitex. Naquele dia, tive esse estalo de que precisava idealizar algo diferente, que fizesse sentido para o novo momento. Era preciso criar algo com papel renovável, sustentável, biodegradável. Assim, comecei a botar em prática e hoje tenho orgulho do tamanho que nos tornamos. Cheguei a um ponto que não consigo mais pegar clientes novos de tantas demandas que estamos tendo”, conta Luiz.

Alguns estabelecimentos têm feito ações e incentivado à prática pelo Brasil. Nas lojas em São Paulo da rede Pastifício Primo, por exemplo, os clientes que levam suas embalagens reutilizáveis ganham 10% de desconto na compra de massas e molhos.

“Os clientes sempre pediram para que montássemos as lasanhas em seus refratários. E, para incentivar essa prática, dávamos pequenos descontos a eles, afinal, esta é também uma forma de incentivar o comportamento sustentável”, afirma Andrea Di Cunto, sócia do Pastifício Primo.

O que era apenas um hábito, virou regra. Andrea conta que se inspirou na cultura japonesa, em que é muito comum as pessoas levarem as próprias embalagens e potes e, assim, evitar descartes desnecessários – especialmente do plástico, que muitas vezes vai parar nos oceanos. Além disso, observou o fato de o público da rede ser muito preocupado com ecologia e sustentabilidade, bem como o desejo de todos em seguir a Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Já o Green Kitchen, primeira cloud kitchen vegana do mundo, utiliza embalagens sustentáveis em seu delivery. Os talheres, por exemplo são compostos por 70% de amido de milho e 30% de bagaço de cana compostável. Os canudos de papel são biodegradáveis. Já as embalagens são feitas com bagaço vegetal, que é 100% reciclável.

Aliás, há que se destacar que os restaurantes veganos lideram esse movimento e destacam a preocupação tanto com o alimento – dando prioridade a orgânicos – quanto com toda a questão ambiental. O Da Vila, de Luisa Leite, é um dos grandes exemplos. Engajada na causa, estudiosa e preocupada em todos os âmbitos de seu negócio, a chef pensa em como fazer a diferença em cada detalhe. A água da casa é servida em uma garrafa de vidro de forma gratuita, evitando o uso desnecessário de plástico. As embalagens são todas recicláveis. Mas muito mais que isso, Luisa enfatiza que a preocupação precisa ser completa.

“Precisamos ir além do senso comum. Precisamos nos aprofundar para entender para onde exatamente vai o nosso lixo. O grande problema dessa questão é querer se livrar da responsabilidade. Por exemplo, quando alguém fala que separa o lixo consumido dentro de casa. Se essa pessoa acredita que a responsabilidade acaba ali, ela está errada. Precisamos ter consciência do destino desse material”, ressalta.

Água na caixa

Startup Água na Caixa inova e envasa água mineral em embalagem sustentável, incentivando sua reutilização (Foto: reprodução Instagram)

O movimento sustentável vem, aos poucos, atingindo vários tipos de produtos e indústrias. Quantas garrafas de água não tomamos e logo descartamos? A bebida mais consumida no mundo também é uma das que mais são vendidas em embalagens plásticas. A startup “Água na Caixa”, dos sócios e empreendedores Fabiana Tchalian e Rodrigo Gedankien, traz uma nova proposta de envasamento de água e incentiva o reuso da sua embalagem, que é 82% renovável, com 54% de papel e 28% de plástico de cana-de-açúcar. É a primeira marca brasileira a oferecer água mineral em embalagem cartonada. Feita a partir de materiais renováveis, está disponível no tamanho 500ml e, em breve, também na versão 330ml.

“Em uma viagem aos Estados Unidos me apaixonei à primeira vista pela primeira água envasada que vi em uma caixa de papel. Fiquei encantada com o design da embalagem, algo muito atraente em um mercado que não inova, tem a mesma comunicação há muitos anos aqui no Brasil. Não existe uma marca que ocupa um espaço no coração do consumidor e queremos, aos poucos, conquistar esse espaço. Já que é pra consumir água fora de casa, que as pessoas possam procurar uma opção mais sustentável”, ressalta Fabiana.

A empreendedora, que hoje está em diversos pontos de venda do Brasil, enfatiza que a startup se baseia principalmente em três pilares.

“O primeiro – e o que sou mais apaixonada – é a reutilização. Ser a primeira água mineral do Brasil que incentiva a reutilização de suas embalagens me enche de orgulho. Estamos criando uma marca que envolve muita conscientização. Queremos criar um laço de amor e carinho com o nosso consumidor e a única forma é sermos muito transparentes. A embalagem é feita com esse objetivo. Para você ir em um café, levá-la com você, colocar seu nome e ter uma boa experiência”, diz.

“O segundo pilar é: escolhemos ser a melhor opção desde o início. Nossa matéria prima é um diferencial, pensamos com muito carinho nessa composição. E o terceiro é ela ser 100% reciclável, algo essencial para nós”, completa.

Entenda o problema da utilização do plástico a fundo

Felipe de Campos Almeida Antunes Vieira, engenheiro ambiental e proprietário da Proconsult Licenciamento Ambiental e Mineral, explica que o uso de embalagens plásticas acarreta em inúmeros problemas ambientais, relacionados à poluição das águas e dos solos e ao esgotamento de aterros sanitários.

“Quando descartados de forma inadequada, os plásticos podem ser confundidos com alimento por muitos animais, principalmente os animais marinhos, causando suas mortes e interferindo no ciclo reprodutivo das espécies. Já nos solos, os plásticos podem levar centenas de anos para se decompor, configurando-se em um poluidor perene para o ambiente”, diz

“A maior parte dos resíduos de plásticos são destinados a aterros sanitários, que compreendem os espaços atribuídos ao despejo de dejetos com a finalidade de garantir a disposição correta dos resíduos. Grandes quantidades de deposição de resíduos de plástico nos aterros sanitários ocupam considerável parte dos mesmos, o que acarreta no esgotamento de seus espaços e na necessidade de abertura de novos aterros”, completa.

Soluções

A redução do uso de plástico, e consequentemente da produção de lixo, é um desafio fundamental. Diversas alternativas estão tornando as embalagens mais sustentáveis com soluções para ajudar a cuidar do meio ambiente. O engenheiro listou algumas opções e falou sobre seus benefícios:

• Embalagens de fécula de mandioca: produzidas com matérias-primas naturais, compreendem embalagens eficientes que se decompõem rapidamente sem produzir resíduos tóxicos, inclusive podendo gerar nutrientes no processo de decomposição.

• Sacolas de tecido: alternativa para as sacolas de plástico utilizadas no supermercado, com a capacidade de transportar mais produtos que caberiam numa sacola plástica. As sacolas de tecido possuem uma vida útil de cerca de 3 anos, o que significa uma economia de centenas de sacolas plásticas.

• Bambu: material que pode ser utilizado na confecção de canudos reutilizáveis, bem como na produção de talheres descartáveis, que levam poucos dias para se decompor.

• Cera de abelha: alternativa para substituir o plástico usado para envolver alimentos, são feitas de cera de abelha, algodão e demais matérias-primas naturais, criando uma espécie de tecido que se ajusta a forma do alimento, podendo inclusive ser reutilizada.

• Papel: apesar de também gerarem lixo que afetam o esgotamento de aterros sanitários, as embalagens de papel se decompõem com mais facilidade e rapidez na natureza, sendo uma alternativa para o uso de plástico.

Aos poucos, com muita consciência e cada um fazendo um pouquinho sua parte, nosso planeta agradece! Feliz dia do meio ambiente!

Fonte feed: Via Feed Viagem e Gastronomia