#tbt de abril de 2017
Chef internacional aterrissa na Onionland e faz banquete que encanta qualquer um. E por cinquenta conto.
Tati Melo
Especial para o TAC
E lá estava eu dedicada aos meus afazeres jornalísticos, quando, de repente, certo cidadão começa a inundar meu WhatsApp de fotos que mais pareciam de um “banquete real” – um pernil enorme, rodeado de batatas sautè, uma travessa enorme com creme de camarão, dois abacaxis recheados de algo com a cara deliciosa e um tal suflê de chocolate, com lascas de chocolate, cereja, chantilly… Uma coisa dos céus!
Era eu dizendo: “Meu Deus em caps lock! Um verdadeiro banquete real e eu perdendo…” e o cidadão tame foto! Ele sabe bem que comida é meu ponto fraco e quis me fazer inveja. E fez, viu?! Só não fez mais ainda porque, graças à Deus, eram 14h33 e eu já tinha almoçado. Mas surtada fiquei, e nada dele me dizer onde estava.
Quando vi esse cidadão já no outro dia, fui logo interrogando onde foi a comilança e ele soltou as coordenadas e suas impressões. “Pense numa comida boa, requintada e barata viu. Três entradas, dois pratos principais, sobremesa, sabe quanto? R$ 50 por cabeça. Fica numa fazenda, num povoado de Itabaiana”, relatou. Aí que eu surtei mesmo. “R$ 50 conto? Putz, estou pagando quase isso no restô a quilo da esquina do jornal”.
PARTIU CARRILHO
Na hora, pensei comigo: “isso é pauta para o TAC. Mostro as fotos com jeitinho, e ele me manda para o tal lugar”. O TAC ficou impressionado e foi dito e feito. Dei o laço do passarinheiro e peguei a pauta pra mim. Prontamente, entrei em contato com o chef do “reino da comida”, Jonas Felipe, 56 anos, e, de quebra, levei uns coleguinhas da redação pra Itabaiana, a terra da cebola.
Quarenta minutos de viagem, com direito a emoção, – pense num motorista arrojado é nosso editor geral Diego Rios -, chegamos lá. Sabe o Pirata, a churrascaria famosona de Itabaiana? Pois então. É só entrar ali em frente a ele, no Distrito Industrial, e pegar uma estradinha para o Povoado Carilho. A gente anda mais uns 300 metros até se deparar com a porteira da Fazenda Gaivotas. Dali, é só adentrar e que verá uma outra porteira com uma casinha branca e de portas azuis.
Do carro já avistamos Jonas, todo aparatado com sua dólmã e seu toque blanche.
Sentamos para, antes da comilança, saber um pouco desse chef internacional que resolveu abrir um restaurante de comida contemporrânea em plena zona rural de Itabaiana e pelo preço módico de uma onça pintada.
EXPERIÊNCIA AMERICANA
Formado em Gastronomia e Segurança Alimentar, pela American University, em Washington, nos Estados Unidos, o chef já foi responsável por comandar durante 17 anos os restaurantes dos resorts da rede Marriott Internacional – conglomerado de luxo -, na Costa do Sauipe. Sua experiência também foi talhada por andanças por vários países do mundo.
Nascido no Rio de Janeiro, aos 22 anos, Jonas se mandou para os Estados Unidos e ali se debruçou no mundo da gastronomia, após comer o “pão que o diabo amassou” ao ser lavador de pratos num restaurante que oferecia comida mexicana, chinesa, indiana, italiana, o Magic Pan, “A Panela Mágica”.

“Lá os pratos saiam das máquinas com uma temperatura de 90º. Tirava a luva para poder agir logo. Mas, depois de seis meses, cara, não podia olhar para a minha mão. Fechava e o dedo sangrava. Caia o couro. Segundo ele: “ Era pau viola, rapaz. Onde o filho chora e a mãe não vê”.
FEITO EM ARACAJU
Como tudo tem limite, Jonas saiu do sofrimento e foi ser ajudante de cozinha e, daí em diante, não parou na área. Uma vez formado, voltou ao Rio até chegar em Itabaiana. “Os pais da minha esposa são nascidos aqui. Quando minha filha nasceu (uns 20 anos atrás), disse a minha esposa: “não vou criar filhos no Rio. Você vá para Sergipe porque vou dar uma volta pelo mundo, depois te encontro lá”, relata Jonas.
Três anos após andar pelo mundo, já em Itabaiana, Jonas comprou um terreno no Povoado Bom Jardim e, depois, consegui alguns empregos em restaurantes em Aracaju. “Ajudei a abrir o Pepperoni, a Cantina Sicília, o Buana”, diz ele.
Mas aí quando viu que não tinha como mais crescer em Aracaju, decidiu se picar para outro lugar. Na Bahia, chefiou mais de 400 pessoas nas cozinhas de dois hotéis por mais de 10 anos. Quem passa por essas experiências, encara qualquer parada né. Até cozinhar num povoado de Itabaiana a convite de um “mecenas da Gastronomia”.
ISCA GASTRONÔMICA
O Jonas, até umas quatro semanas, estava de boas cozinhando num quiosque do Bom Jardim. Foi lá que surgiu o Edson Passos, da Ethos Incorporadora. “Ele experimentou minha comida e gostou. Aí, certa vez, trouxe-me à fazenda e disse: “É seu. Você pode trabalhar quanto tempo quiser. Fará propaganda desse espaço que será o maior condomínio de Itabaiana’”, relata. Espertinho todo querendo atrair as pessoas pela boca. Pelo jeito, a estratégia está surtindo efeito.
Entradas: traços da Índia e da Itália Tortillas: tex-mex no agreste? Sim, señor! Camarão com crosta de castanha: influência local Salmão: Belle Meunière Manteiga abundante: o traço da cozinha francesa Abacaxi: sorbet de manga e calda de abacaxi
O chef Jonas diz que resolveu fazer uma “gastronomia diferente” na Terra da Cebola. “Itabaiana tem fama de comer só carne (são cerca de 60 churrascarias). Eu vim para mostrar que aqui tem tradição de outras coisas e vocês vão poder provar isso”, informa.
Foi aí que a conversa acabou e, finalmente, as comidas começam a chegar. E, olha, que comida. Meu conhecido e o “boca a boca” tinham razão. Se bobeassemos, já ficaríamos satisfeitos com as entradas – bruschetta, tortilha mexicana, ovos de codorna com páprica, molho de limão e mel dos céus e, e, e… um camarão que, olhaaaa!
É nesse camarão que os ingredientes da região entram em jogo. “Em alguns lugares, é empanado no pão, em outros, no coco. Poh, estou no Carrilho, a terra da castanha. Tenho uma entrada que é o camarão empanado na farinha e no xerém de castanha de caju daqui”, explica. Ficou fantástico no molho de mel e limão.
SÓ COM RESERVAS
No prato principal, fomos acalentados por um salmão grelhado regado a molho de alcaparra, muita manteiga, champignon e camarões, com batata salteada, e arroz de brócolis. Belle Munière.
Era para ter o segundo prato, mas… os coleguinhas arregraram. Que pena! Perdi de comer um pernil de cordeiro com risoto de queijo. Triste!
Partimos, então, para a sobremesa. O Abacaxi Tropical que meu conhecido fez inveja, lembra?! Pois ele é recheado com sorbet de manga, e vem acompanhado de calda de abacaxi quente. Jurava que a combinação não era boa, mas é ótima. Segundo o chef, fica perfeita pelo contraste do quente e do gelado.
Para finalizar, com chave de ouro, suflê de chocolate, com lascas de chocolate branco. Juro que fiquei de boas, um pouquinho cheia, claro. Massss… para quem é bom de boca, gosta de comida requintada, fica o recado: Chef Jonas trabalha de terça-feira a domingo, das 12h às 17h. É necessário fazer reservas, pois há poucas mesas, apenas sete. “Dentro do que tenho, faço indicações. Mas faço diversos tipos de pratos também. É só pedir com antecedência”, informa. Ah, as bebidas são cobradas por fora.