sexta-feira, março 29, 2024

Copa sem cerveja, sem bacon e sem beijos, por Cozinha Bruta

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A proibição da venda de cerveja nos estádios da Copa do Mundo, no Qatar, pegou a Fifa de calças curtas –mas é bom ela tratar de cobrir rápido os joelhos, pois a exposição das pernas é algo indecente pelas leis locais.

Na véspera do anúncio da lei seca, a Folha já havia publicado um texto sobre o perrengue que é molhar a garganta no país-sede do mundial de futebol, uma monarquia absolutista islâmica.

Esforço de reportagem e de autoajuda: nas Copas, as equipes estrangeiras de jornalistas formam uma comunidade mais ou menos coesa que busca, como todos os outros visitantes, diversão quando o expediente acaba. E diversão, na cultura do futebol, quase sempre envolve tomar umas cervejas.

O veto à cerveja fez estardalhaço porque envolve um contrato de US$ 75 milhões com a Budweiser, mas não é a única restrição comportamental –e está longe de ser a mais cruel.

É vetado o consumo de carne suína, por exemplo. Bacon, presunto e linguiça não fazem parte da dieta do Oriente Médio –o porco é considerado imundo tanto pelo islamismo quanto pelo judaísmo.

Na Copa do Qatar as delegações estrangeiras estão proibidas de incluir carne de porco na alimentação de jogadores e comissão técnica.

A norma draconiana impacta em especial a equipe espanhola. “Para torneios longos, os cozinheiros da Roja costumam embarcar uma centena de presuntos de alta qualidade, o jamón ibérico de bellota”, diz um artigo do jornal italiano Gazzetta dello Sport.

Já o diário espanhol Marca fala de um manual, expedido pela embaixada alemã em Doha, que alerta os concidadãos do risco de camuflar salsichas e salsichões na bagagem da Copa.

Proibir salsicha, cerveja e cigarro eletrônico (sim!) chega a ser folclórico perto do rigor com o vestuário e as manifestações públicas de afeto, como beijos, em especial entre pessoas do mesmo sexo –a homossexualidade é crime no Qatar.

A monarquia qatari se comprometeu a relaxar essas regras para os turistas do futebol. Vale lembrar que ela também se comprometeu a liberar a venda de cerveja nos estádios –e mandou pras cucuias o compromisso.

Porque o Qatar é uma ditadura. Ditaduras só têm compromisso consigo mesmas.

A última Copa jogada sob uma ditadura foi a da Argentina, em 1978. Coincidentemente, a primeira de que eu me lembro de alguns jogos.

Apesar da pressão internacional, a Fifa insistiu na disputa do torneio, usado politicamente pelos militares sob o comando do sanguinário Jorge Rafael Videla.

A seleção argentina precisava ganhar do Peru por pelo menos quatro gols para passar à final. Venceu por 6 a 0 num jogo em que o adversário claramente fez corpo mole. As acusações de corrupção ficaram por isso mesmo, e o time dos ditadores foi campeão.

Difícil haver marmelada capaz de levar o time do Qatar para além da fase de grupos. Mas vá saber o que nos reserva uma Copa que já começa toda errada. Futebol, tirania e corrupção são três caixinhas de surpresa.

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Fonte feed: Via Feed Folha de S.Paulo