quinta-feira, abril 18, 2024

“A participação de Taiwan na OMS não seria prejudicial para ninguém, e sim, um benefício para todos”

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Após o aumento das tensões no Estreito de Taiwan devido às pressões militares, econômicas e diplomáticas que a China exerce sobre Taiwan, o temor de um conflito deflagrado na área preocupa não somente Taiwan e os demais países vizinhos, mas também toda a comunidade internacional. Além de ser um grande defensor da democracia na Ásia, Taiwan é hoje um elemento-chave no comércio internacional. Essas foram as pautas principais que tivemos com o Representante de Taiwan no Brasil Sr Diego Wen, que ainda fez um apelo à comunidade internacional e aos países democráticos que se unam contra o expansionismo hegemônico da China e a favor da paz, e também apoiem a participação de Taiwan em Organizações Internacionais, como a Organização Mundial da Saúde Organização Mundial da Saúde (OMS), que realiza sua Assembleia em maio deste ano em Genebra (Suíça).

1.- Como está a situação no Estreito de Taiwan atualmente?

O pretexto de que a nossa Presidente Tsai Ing-wen se encontrou com o Presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Kevin McCarthy durante a sua escala em Los Angeles, em abril passado, serviu para que a China iniciasse mais uma vez, manobras militares para cercar Taiwan, como fizeram em agosto de 2022 após a visita de Nancy Pelosi a Taiwan. É claro que a China está claramente desafiando a ordem internacional e minando a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan e em toda a região, violando os princípios da Carta das Nações Unidas sobre a solução pacífica de controvérsias. A visita de líderes a países aliados, no caso nosso a presidente Tsai Ing-wen, em atividades diplomáticas, é uma prática comum e direito fundamental de todo país soberano, sobre o qual a China não tem direito de intervenção.

2.- Isso significa que pode haver risco de guerra no Estreito de Taiwan?

O risco de guerra existe, mas como membro responsável da comunidade internacional, Taiwan não agravará a situação ou incitará o confronto, mas continuará a trabalhar com nossos parceiros para impedir a expansão autoritária, defender a ordem internacional baseada em regras, e garantir um Indo-Pacífico livre e aberto. Nossa posição sempre foi de não ceder à pressão ou agir precipitadamente quando temos apoio. Estamos dispostos a trabalhar com a China, sempre sob os princípios da racionalidade, igualdade e respeito mútuo, para encontrar uma solução aceitável para ambas as partes para manter a paz e a segurança no Estreito de Taiwan. O uso da força militar não é de forma alguma, uma opção para resolver as diferenças, porque sabemos que na guerra nunca há vencedores, apenas perdedores.

3.- Levando em conta a importância estratégica de Taiwan no mundo, quais as consequências  que uma guerra no Estreito de Taiwan teria para a comunidade internacional?

Mais de 40% das mercadorias enviadas para o mundo passam pelo Estreito de Taiwan. Além disso, Taiwan produz mais de 60% dos chips do mundo e 90% dos semicondutores mais avançados. Uma guerra em Taiwan interromperia mais de 40% do comércio mundial. Uma possível  intervenção militar chinesa em Taiwan teria um impacto significativo na região,  provocando  um verdadeiro tsunami geopolítico que não deixaria nenhum país indiferente, nem o Japão, nem a Coreia do Sul, e claro, nem os EUA, que é o nosso principal aliado internacional, e se acontecer, o que vamos fazer? Esperar? Não. Isso poderia desencadear a Terceira Guerra Mundial. Não pedimos aos Estados Unidos que intervenham diretamente em uma guerra, mas que nos forneçam ferramentas defensivas e nos ajudem a treinar nossos soldados para que sejamos capazes de nos defender em caso de uma invasão. A legítima defesa é o maior impedimento contra a ameaça chinesa.

4.- De que maneira a comunidade internacional tem apoiado Taiwan?

Em resposta ao anúncio da China de exercícios militares, o Departamento de Estado dos EUA reagiu imediatamente para reiterar a China a atuar com moderação e não mudar unilateralmente o status quo no Estreito de Taiwan. Por sua vez, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, reiterou mais uma vez durante a sua recente visita à China que a estabilidade de Taiwan é de vital importância e que qualquer alteração unilateral e forçada do atual status quo no Estreito de Taiwan é inaceitável. O Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Joseph Borrell, apelou às forças armadas aliadas para patrulhar o Estreito de Taiwan para mostrar o seu compromisso com a liberdade de navegação numa área absolutamente crucial; Por fim, os ministros das Relações Exteriores do G7, reunidos de 16 a 18 de abril no Japão, reafirmaram em comunicado a importância da paz e estabilidade no Estreito de Taiwan como elemento essencial para a segurança e prosperidade da comunidade internacional.

5.- Você acha que a atitude da China é sincera quando diz que quer se tornar um mediador da paz na Ucrânia?

Durante o recente telefonema do presidente chinês, Xi Jinping, ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em 26 de abril, Jinping  quis se juntar às tentativas de pacificação da Europa. Ele enfatizou a importância do diálogo e da negociação como as únicas soluções viáveis, e afirmou que uma guerra nuclear não traz vitórias. Além disso, argumentou que “a posição central da China é promover a paz por meio de negócios”. Se a China realmente deseja mediar a paz, seria de se esperar que ela também reconhecesse e apoiasse a paz e estabilidade também no Estreito de Taiwan. Agora que a Rússia e China caminham juntas, nós, os países democráticos, temos que estar mais unidos do que nunca diante do expansionismo hegemônico e o apoio da União Europeia a Taiwan deve ser significativo e essencial.

6.- Uma consequência direta da pressão da China sobre Taiwan é sua exclusão de organizações internacionais, como a Organização Mundial da Saúde. O que Taiwan poderia contribuir para este organismo?

A ROC (Taiwan) apoia totalmente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas relacionados à saúde e está pronto e apto a compartilhar sua experiência para ajudar a comunidade internacional a trabalhar para a realização de tais objetivos. Durante a pandemia de COVID-19, o modelo bem-sucedido de resposta à pandemia colocou Taiwan em sexto lugar nas taxas de mortalidade por COVID-19 entre os 38 estados membros da Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mais Cingapura. Taiwan também ficou em quarto lugar em termos de taxas de cobertura para pelo menos uma dose da vacina contra a covid-19 e em terceiro lugar em termos de vacinas de reforço. Com o declínio da pandemia da COVID-19 e o diálogo sobre o fortalecimento dos sistemas de saúde  acelerando em todo o mundo, Taiwan não deve ficar para trás. Taiwan pode ajudar, e a inclusão de Taiwan nos mecanismos da Organização Mundial da Saúde (OMS), tornaria o mundo mais saudável, sustentável e igualitário.

7.- Você espera um maior apoio da comunidade internacional este ano para participar da Assembleia Mundial da Saúde a ser realizada este mês em Genebra?

Apesar do forte apoio dos EUA e da UE à participação significativa de Taiwan na Organização Mundial da Saúde (OMS), o apelo é contínuo para que a Assembleia Mundial da Saúde (WHA, sigla em inglês), inclua Taiwan como observador, já que esse pedido não foi atendido nos últimos seis anos. Esta é uma situação anômala que deveria ser impensável, porque excluir Taiwan dessas importantes discussões sobre saúde pública e prevenção de doenças não é apenas prejudicial aos direitos dos cidadãos taiwaneses, mas também priva a comunidade internacional do conhecimento e da experiência que Taiwan tem pode e quer compartilhar, fazendo uso de seus lemas “Taiwan pode ajudar e Taiwan está ajudando”. A terrível pandemia da COVID-19 mostrou-nos que os vírus não conhecem fronteiras nem nacionalidades, que o direito à saúde deve ser um direito universal e que, como diz o próprio lema da OMS, “em matéria de saúde ninguém deve ficar para trás”. Se Taiwan for excluído, a OMS mostraria total desrespeito ao direito à saúde dos 23,5 milhões de taiwaneses. Como a 76ª Assembleia Mundial da Saúde começará em Genebra, Suíça, em 21 de maio de 2023, a comunidade internacional deveria apoiar Taiwan como observador e a incorporar totalmente Taiwan nas reuniões, mecanismos e atividades da OMS, o que seria para benefício de todos.