Dra. Elaine Dias JK, PhD em endocrinologia pela USP, ressalta novo estudo divulgado nesta quarta-feira (26) no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO 2024), em São Paulo, revelando que, até 2044, 48% dos adultos brasileiros podem atingir a obesidade e outros 27% o sobrepeso. Para a especialista, além da genética, a alimentação é o principal gatilho para este cenário preocupante.
De acordo com novo estudo nacional divulgado na última quarta-feira, 26 de junho, no Congresso Internacional sobre Obesidade (ICO 2024), em São Paulo, a estimativa é que a obesidade e o sobrepeso atinjam 68,1% dos brasileiros até 2030, sendo o grupo de mulheres a maioria do casos, com 30,2% obesas e 37,7% com excesso de peso. Os homens correspondem a 28,8% e 39,7%, respectivamente. E, até 2044, as projeções são de que a doença afete quase metade da população brasileira adulta (48%) e o sobrepeso esteja em outros 27%.
A Dra. Elaine Dias JK, PhD em endocrinologia pela USP e metabologista, ressalta que a obesidade é uma preocupação global com números alarmantes. “Mais de 1 bilhão de pessoas são portadoras da patologia, sendo 650 milhões de adultos, 340 milhões de adolescentes e 39 milhões de crianças, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, ressalta a especialista.
A médica explica que a obesidade é uma doença crônica, multifatorial e complexa. Existem diversos fatores relacionados ao sobrepeso e, por isso, é fundamental que o paciente faça uma avaliação médica, embasada em exames laboratoriais. “A obesidade é uma patologia e infelizmente a maioria das pessoas sofrem não somente por conta das demais doenças que ela pode acarretar, como hipertensão, diabetes etc, mas também em função de preconceito, especialmente as mulheres. Há muitos pacientes que recorrem ao médico por isso, porque passaram por situações humilhantes no trabalho, na academia, dentro de casa, na loja de roupas e até em consultórios médicos. O que está diretamente relacionado à falta de informação e conscientização da população”, indaga a Dra. Elaine, que é especialista em emagrecimento saudável.
A endocrinologista e metabologista ressalta que, além da genética, estão a ansiedade e a compulsão alimentar entre os principais gatilhos para gordura excedente no organismo. “Nas minhas consultas, trabalho muito a necessidade de qualidade de vida e autoaceitação com meus pacientes. Foi assim que percebi a importância de aliar tratamentos endocrinológicos com acompanhamento nutricional, psicológico e tecnologias que proporcionam bem-estar. O importante não é o quanto se pesa ou se emagrece, mas como o paciente se sente e os impactos na sua saúde”, comenta a especialista.
A obesidade reflete em diversos outros sistemas do corpo: coração, fígado, rins, articulações e sistema reprodutivo. “Ela é capaz de provocar uma série de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, hipertensão, acidente vascular cerebral e várias formas de câncer, bem como problemas de saúde mental”, explica a Dra. Elaine.
Tratamentos Modernos
Os tratamentos para obesidade têm evoluído significativamente, com opções que vão além das tradicionais recomendações multidisciplinares, que vão muito além de dieta e exercício físico. “A ciência tem descoberto grandes aliados farmacológicos. Estive na Obesity Week, em San Diego, onde foram apresentados os mais recentes desenvolvimentos em ciência baseados em evidências, como a Tizerpatida, que já teve aprovação da ANVISA para ser comercializada no Brasil”, comenta a Dra. Elaine.
A médica explica que se trata de um análogo dos hormônios intestinais GLP1 e GIP, que agem no hipotálamo, no centro da fome e saciedade. Nos resultados de estudos apresentados no Congresso, houve uma redução média de 26,6% do peso dos participantes de forma rápida.
Além dessas inovações, há a cirurgia bariátrica e metabólica, indicada para casos de obesidade severa ou mórbida; terapias comportamentais e de estilo de vida, que envolvem programas intensivos de mudança de comportamento, muitas vezes combinados com suporte psicológico; tecnologia que potencializam os tratamentos com a redução de medidas, fortalecimento dos músculos, entre outras soluções.
Tipos de Obesidade
A obesidade se manifesta de diferentes formas, cada uma com suas particularidades e riscos associados. Tradicionalmente, é classificada em dois tipos principais:
-Obesidade Tipo 1 (Moderada): IMC entre 30 e 34,9 kg/m². Neste estágio, os riscos para doenças associadas, como diabetes tipo 2 e hipertensão, começam a ser significativos.
-Obesidade Tipo 2 (Severa): IMC entre 35 e 39,9 kg/m². Os riscos para complicações de saúde aumentam substancialmente.
-Obesidade Mórbida: IMC de 40 kg/m² ou mais. Neste nível, o indivíduo enfrenta um risco muito elevado de desenvolver problemas de saúde graves.
Além disso, a obesidade pode ser subdividida com base na distribuição de gordura corporal:
-Obesidade abdominal (Androide): Caracterizada pelo acúmulo de gordura na região abdominal. Esta é mais comum em homens. Está associada a um risco aumentado de doenças cardiovasculares.
-Obesidade periférica (Ginoide): Com acúmulo de gordura nas coxas e quadris. Esta é mais frequente em mulheres. Apesar de menos associada a doenças metabólicas, pode dificultar a mobilidade e afetar a qualidade de vida.
A Dra. Elaine explica que, para identificar o tipo de obesidade, geralmente se inicia com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), uma medida simples que relaciona peso e altura. No entanto, para uma avaliação mais precisa, é necessário recorrer a análises complementares, como a medição da circunferência abdominal, densitometria corporal, e bioimpedância, que oferecem uma visão mais detalhada da composição corporal.